22 de maio de 2011

O Comboio.

Há muito que não me sentia tão feliz. Acho que passei demasiado tempo a olhar para trás. Pensei que o futuro estava no passado porque durante 9 meses eu vivi a querer o que foi. Achei que nunca mais ia ser feliz porque tinha perdido o comboio que me levava à Felicidade. Após muito tempo à espera na estação, finalmente chegou um comboio que me levou ao meu destino. Foi difícil, passei muitas noites em branco, ao frio, tentado encontrar uma distracção, imaginando comboios. A estação continuava vazia e julguei que aquele comboio fora o ultimo. Aos poucos, fui vendo mais pessoas à espera, aos poucos deixei de me sentir tão sozinha. Recebi muitas ajudas de estranhos, mas a minha mente estava sempre no comboio. Tanto tempo, tantas horas. Até que um dia, madrugada chegara, e o frio se instalava. Fechava os olhos para me conseguir abstrair da dor gelada. Sempre que o fazia, revia o verão glorioso, verão espontâneo, verão completo, verão quente. Mas nesse verão, estava sempre a imagem do comboio que passava, que me esperava e no qual eu entrava. Sempre o mesmo pensamento.
Nessa madrugada triste e solitária, ouvi um grito de alguém que esperava comigo, abri os olhos, corri em seu auxilio. Era uma mulher que como eu, fora abandonada pelo comboio. Perguntei lhe o que sucedera, ela me dissera que vira uma luz ao longe na linha de comboio. Olhei com atenção e uma esperança perdida me percorrera o corpo num arrepio benigno. Lá estava ela, imóvel. Rapidamente o frio desaparecera e adoptei um sorriso ao meu rosto cansado. Os minutos foram passando, e com eles passaram horas e até dias. A luz continuava distante. Até que numa tarde, jogava futebol com os outros passageiros perdidos, quando numa maré de hesitação, todos paramos. A luz aproximava se cada vez mais e até conseguíamos ver a proa do comboio. Inconscientemente ficamos todos sentados num chão frio e cantámos serenamente o nosso hino. Até que por fim ouvimos a buzina do comboio, saltámos e perdemos nos num abraço. Fora o melhor abraço da minha vida. O comboio parara. Nunca tinha visto um comboio tão impecavelmente conservado. A tinta cheirava a fresco, o vidro das portas era mais transparente que os de um aquário. Erguemos a cabeça, pegámos em toda a bagagem, em silencio, e subimos para o comboio. Não falámos durante toda a viagem. Apreciámos a viagem imóveis. O comboio parou e saímos dele, sem passado, sem futuro, apenas com o presente, A Felicidade. Assim nos separamos como estranhos.
E aqui estou, feliz.

2 comentários:

Anónimo disse...

sinto o que sentes, e sempre assim na estacao de cais do sodre para ir pa cascais!

Amanda disse...

Woow leo!