15 de junho de 2022

 Esta manhã, mergulhei até ao Alentejo, lá para a casa mais feliz da nossa infância, onde me cruzei com a minha terapeuta. Ela estava naquela casinha de madeira onde brincávamos, só que a mesma tinha sido colocada no cimo de uma árvore. Avistei-a, para lá do muro, do muro de outra casa onde cresci - casas dentro de casas - as mesmas emoções em lugares diferentes. Era a primeira vez que via a minha terapeuta fora das quatro paredes do consultório, e lembro-me de sentir de igual forma do que quando cruzava a minha professora preferida num outro lugar. Ela viu-me da sua janela, que apressou em fechar - tinha chegado um cliente. Eu, com quem estava, comentei que era a Sara, que era o meu modelo, que eu seria como ela, ela que recebia os seus pacientes numa casa de madeira em cima de uma árvore. 

Mais tarde, caminhava para o alpendre, e ocorreu-me que não poderia ser verdade, que a minha terapeuta não podia estar a receber pessoas naquele lugar, no lugar da minha infância. Comentei com o meu primo enquanto me ria "oh, vê-se mesmo que isto é um sonho".  Imediatamente aquilo que me parecia astuto, transformou-se em pânico, quando me apercebi que estava presa num lugar só meu, onde não havia outro que existisse. Ali tudo era minha criação e ali eu estava sozinha. Voltei a repetir a mesma frase, desta vez mais hesitante: vê-se mesmo que isto é um sonho. Os segundos que se seguiram foram os de um pesadelo - tinha tanto medo que até no meu sonho, o meu primo deixasse de existir - mas ele respondeu. Quando o fez, toda a ansiedade reduziu e voltou aquele a ser um lugar seguro. Pensei que, até podia ser um sonho, e eu até podia saber, mas que a presença real ou imaginária dele, de um outro, era o suficiente para não sentir aquela angústia. Eu estava ali naquele lugar só meu, mas para esse lugar eu podia trazer quem eu quisesse. E assim o continuei a fazer no resto o tempo que sonhei, e assim o torno a fazer, só que agora desperta...

Para lá da angústia, estava mesmo a liberdade.


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