Cheguei a crer, nos tempos
Em que em nada cria,
Que o amor que existia,
Era somente sintoma da dor
De que padecia.
Era a resposta criativa,
O prado ensolarado,
Onde teria os seus braços
Para me proteger da
Dor que queria entrar.
Era no Outro que procurava,
A força que ainda não tinha,
Espaço por preencher,
Cavidade cerebral onde
Morava a ausência dos meus pais.
Espaço oco e escuro que
Decorava com luz e flores,
Música e cores,
Para tornar confortável o Lugar,
Para que alguém lá quisesse ficar.
Tentava dos outros esconder
As falhas que sabia ter.
Afogando-as para o fundo
De quem sou, na esperança,
Que lá ficassem adormecidas.
Mas das minhas entranhas,
Surgia o grito da criança
Atormentada, ouvia-se seu pranto,
Assim como o rugir da diva
Enraivecida, mulher revoltada.
**
Hoje passou algum tempo...
E o tempo que passou trouxe
Até mim estas duas personagens
A quem dou a mão e com quem
Tenho vindo a trabalhar...
O bebe já não chora tanto desde
Que o tenho nos meus braços,
Apresento-o às pessoas que não
Resistem em querer lhe pegar
Dar beijinhos e até reconfortar.
Quanto à diva, olhem como ela
É tão capaz de lutar, melhor
do que eu, pelos nossos interesses.
De nos autopromover,
De se saber bela ao espelho.
Agora somos três, e haverá
Certamente outros por resgatar,
Por converter em potencial criativo,
Outros que nos virão ajudar,
A continuar a escrever este livro.
Sem comentários:
Enviar um comentário