16 de dezembro de 2018

O Bebé e a Diva

Cheguei a crer, nos tempos
Em que em nada cria,
Que o amor que existia,
Era somente sintoma da dor
De que padecia.

Era a resposta criativa,
O prado ensolarado,
Onde teria os seus braços
Para me proteger da
Dor que queria entrar.

Era no Outro que procurava,
A força que ainda não tinha,
Espaço por preencher,
Cavidade cerebral onde
Morava a ausência dos meus pais.

Espaço oco e escuro que
Decorava com luz e flores,
Música e cores,
Para tornar confortável o Lugar,
Para que alguém lá quisesse ficar.

Tentava dos outros esconder
As falhas que sabia ter.
Afogando-as para o fundo
De quem sou, na esperança,
Que lá ficassem adormecidas.

Mas das minhas entranhas,
Surgia o grito da criança
Atormentada, ouvia-se seu pranto,
Assim como o rugir da diva
Enraivecida, mulher revoltada.

**

Hoje passou algum tempo...
E o tempo que passou trouxe
Até mim estas duas personagens
A quem dou a mão e com quem
Tenho vindo a trabalhar...

O bebe já não chora tanto desde
Que o tenho nos meus braços,
Apresento-o às pessoas que não
Resistem em querer lhe pegar
Dar beijinhos e até reconfortar.

Quanto à diva, olhem como ela
É tão capaz de lutar, melhor
do que eu, pelos nossos interesses.
De nos autopromover,
De se saber bela ao espelho.

Agora somos três, e haverá
Certamente outros por resgatar,
Por converter em potencial criativo,
Outros que nos virão ajudar,
A continuar a escrever este livro.


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