16 de janeiro de 2018

Cedo na vida, antes mesmo de saber,
Recebi da minha mãe uma herança.
Antes mesmo de ela morrer,
Já o peso de ser,
Uma eterna criança,
Assustada, enraivecida...

E depois entrei na idade de decidir,
Mas já não tinha escolha,
Era vitima dos meus instintos,
Vivia presa numa espiral,
Em busca daquilo que me daria
Um significado...

Estava desafinada, era estrangeira,
Incapaz de me soltar,
Da sensação de ser,
Um peso a mais na carteira
Da minha mãe.

Procurei outros colos,
Mas eram todos celestiais,
De ouro, e eu estava suja demais,
Para os merecer,
Pequena demais,
Para neles caber.

Triste cruzamento agitado,
Em que todos passam mas ninguém pára,
Onde seguem apressados,
Para chegar a algum lado.

E eu ofuscada pelas luzes,
Para onde quero ir?
Que lugar é este onde ninguém pára,
Para sentir, para ser.

Que mentira é esta que nos faz crer,
Que para viver temos de correr?

Olha para eles...
Será que se vêem?

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