18 de maio de 2013

Recordação desfocada

Queria ter sido mais, queria ter dado tudo, queria ter ido mais longe. Tenho saudades de quando era estranho, quando a loucura residia em mim e me dava energia. Vivia a mil à hora, e estava omnipresente. Tinha forças para tudo; era grande o suficiente para alcançar o infinito. Hoje sou pequena, falhei em tudo, e infelizmente, jamais poderei corrigir o erro que fiz. Errei sem errar, pois voltaria a fazer o mesmo, pois era legitimo fazê-lo, e era até, quase inevitável. Achei-me maior do que era, e achei que a minha pequenez chegava para te fazer avançar. Mas tu ficaste imóvel diante de mim, e tu fugiste sem que eu te pudesse tocar.
Volto a reler páginas perdidas num tempo bem distante, um tempo em que já não vivo, um tempo de alguém que já não sou. Mudaste a minha vida despertando uma imensa vontade. Arfei com a corrida, e fiquei com os joelhos em sangue de tanto raspar no chão. Ardi em febre de tanto pensar em ti, constipei-me de tanto te procurar sob a chuva. Foste a medida do meu tempo, e sem o ver, esgotaste-o. A areia caiu sem que a visse, e quando acordei, já não estavas cá. O amor fez de mim louca, prostitui-me por ti, e não pedi dinheiro em troca, pedi bem mais, pedi-te a ti. E tu nunca te deste...
Quem foi que viveu neste corpo? Quem foi aquela que passou dias a fio procurando os teus olhos, desenhando mil e um tipo de olhos a fim de encontrar os teus? Estive bêbeda durante seis meses, tudo o que fiz foi sem o meu consentimento  Tudo o que me guiava era o desejo, e toda a razão foi esquecida. Fui sem nada para a guerra, e voltei sem ti...
Acordo de um sonho bem distante, uma mera recordação de uma aventura que vivi sem viver, desfocada, incompleta, e mitificada. Como é que é possível  Se amei tanto, se lutei tanto, se fui louca amando, e se o amor reside nessa loucura, então porque é que acordei? Nada mudou, sem ser o facto de haver um muro bem alto que nos separa, de já não ter acesso ao teu ser, de não poder ver os teus olhos...
Lembro-me bem de sofrer por ti, e lembro-me tão pouco da razão pela qual me apaixonei... Sei que fazia sentido, pois passei muito tempo afundada em pranto, e se esse pranto existiu durante tanto tempo, é porque valia a pena. Porém, não me lembro bem das coisas boas. Lembro-me de momentos chave, momentos que me guiaram à situação em que estive, à imensa mágoa... Contudo, não me lembro do porquê de ter querido abrir a porta...
Penso em ti, e procuro iluminar a nossa história no intuito de tentar decifrar o porquê de ter sido louca. Pois a brincar, foram seis meses de loucura imensa, em que o tempo passou sem eu o ver, em que me corrompi, em que poderia ter ido mais longe se a esperança não me tivesse mantido acesa. Que perigo ser quem sou, oscilar de extremo em extremo; amar num dia, e desprezar no outro... Qual é, afinal de contas, o valor das coisas? Nunca poderei ter a certeza de nada, pois serei sempre a impulsiva, a inconstante e a louca que se atira de cabeça sem olhar para baixo, que um dia pode cair, e esse dia poderá ser o ultimo...

1 comentário:

Anónimo disse...

O pensamento, algo que flui como riacho descendo a montanha tentando escapar-se dos pequenos obstáculos que se deparam à sua frente. A comparação, recurso de argumentação de peso. A ignorância aceita, a sabedoria reflete. a futilidade de querer ignorar, de viver envolto no que o rodeia. A ignorância da felicidade. Será isso mesmo? Será que esse sentimento se alcança com a superficialidade do pensamento visual? Será que a limpeza de todos os males se alcança com a rejeição desses próprios males? Não. não. não. O buraco subsiste, acolhendo os pequenos demónios da tristeza, do mal. O pensamento e a reflexão são então a solução? Não. A acção consequente da reflexão é a verdadeira solução do problema. A procura do conhecimento, da sabedoria que nada tem a ver com o saber. A procura da força para realizar tal mudança. Escrita esta que em nada contribui com a tempestade de sentimentos que se apodera aos poucos da mente humana. Arte, música, literatura. Recursos do pensamento, da comunicação. Seja com o engenho da palavra, seja da beleza, da harmonia da inspiração. Paradoxo do pensamento. Tempestade que se intensifica chegando por fim ao clímax. E nada mais. E o que se segue? o fim? o meio? o princípio? A procura da verdade, do sentido, da razão. Fim, onde te encontras? Quais são os teus segredos? Que escondes? Revela o teu poder e transmite-o a todos os que o procuram. A beleza da vida, e a recusa desta. Referência à morte? Não! não. não. À vida. O fim da procura, da desorientação.